A Providência Divina e a Responsabilidade Humana
E disse (Deus): "Sabe com certeza que tua descendência será peregrina em terra que não lhe pertence..." Gên. 15:13


Na Torá, encontramos momentos em que a providência divina se entrelaça com a ação humana. Um desses momentos é retratado quando Deus diz a Avraham que seus descendentes seriam estrangeiros em uma terra que não era sua e seriam escravizados e oprimidos por quatrocentos anos¹. Mas, como poderiam os egípcios serem punidos se estavam apenas seguindo um decreto divino?
Os sábios oferecem algumas interpretações para essa questão. Ramban explica que os egípcios foram além do que foi decretado por Deus. Ao invés de apenas submeterem os hebreus à servidão, eles infligiram crueldades excessivas, como o assassinato de bebês hebreus no Rio Nilo². Portanto, eles foram punidos não por escravizar os hebreus, mas pela crueldade com que trataram o povo escolhido por Deus.
Já Rambam tem uma visão diferente. Ele acredita que o destino e o livre arbítrio podem coexistir. A Torá pode ter previsto a escravidão dos hebreus, mas isso não absolve os egípcios de sua responsabilidade moral. Eles ainda tinham a liberdade de escolher como agir e, infelizmente, escolheram o caminho da opressão³.
O Meshech Chochmah, por outro lado, sugere que o propósito de Deus ao informar Avraham sobre o futuro não era decretar um destino específico, mas simplesmente informar sobre os desafios que seus descendentes enfrentariam⁴. Assim, os egípcios tinham a livre escolha e foram julgados por suas ações.
O que podemos tirar dessa discussão é que, enquanto a providência divina pode definir o curso geral da história, a responsabilidade de escolher o bem ou o mal permanece firmemente nas mãos da humanidade. Cada um de nós é um ator no palco da história, com a capacidade de influenciar o enredo com nossas escolhas. Portanto, ao enfrentarmos os desafios da vida, lembremo-nos de que temos o poder e a responsabilidade de escolher o caminho da justiça, bondade e misericórdia.
A verdadeira força de uma pessoa não está em aceitar cegamente o destino, mas em escolher o caminho do amor e da justiça, mesmo quando as circunstâncias são desafiadoras.
Entendendo o destino e o livre arbítrio
Recompensas e Desafios da Vida
A vida é uma mistura de recompensas e desafios. Nossas ações determinam as bênçãos e lições que recebemos. Nossos sábios ensinam que a verdadeira recompensa está reservada para o Olam Haba (O mundo vindouro). No entanto, devemos perguntar, por que as pessoas justas enfrentam obstáculos aqui?
R' Eliyahu Dessler, um sábio, questiona o seguinte, como pode a breve dor terrena comparar-se à eternidade do outro mundo? A resposta está na perspectiva. Para o Criador, o maior castigo é nos privar da oportunidade de crescer espiritualmente. Quando enfrentamos desafios, se não estamos conectados com a Luz, corremos o risco de perder momentos preciosos que poderiam ser usados para cumprir Seus mandamentos e nos aproximar ainda mais do Criador.
Da mesma forma, as recompensas temporárias dadas aos ímpios são simples prazeres terrenos. Em vez de se apegar a essas alegrias efêmeras, devemos reconhecer que a verdadeira bênção é usar nossa saúde, riqueza e sabedoria para servir ao Eterno.
Os sábios ensinam que a verdadeira recompensa por seguir um caminho virtuoso é uma vida sem preocupações no sentido de que ainda que surjam desafios, nossa certeza na providencia de Deus será inabalável. Portanto, devemos valorizar cada momento, pois o tempo é a essência da vida eterna.
A lição final? Não desperdice seu tempo com trivialidades. Cada segundo é precioso e pode ser uma peça do paraíso que construímos para nossa alma. A vida é breve; faça com que cada momento conte em sua jornada espiritual.
Referências:
1. Gênesis 15:13-14
2. Êxodo 1:22
3. Hilkhot Teshuvah 6:5 (Rambam)
4. Meshech Chochmah em Êxodo 1:10.