A Promessa do Criador e o Instinto Inerente do Homem

Nunca mais condenarei a terra por causa da humanidade, já que os desígnios da mente humana são maus desde a juventude; nem nunca mais destruirei os seres vivos, como fiz. Gên 8:21

Em uma passagem poderosa, somos apresentados à promessa do Criador de nunca mais infligir à humanidade um desastre como o Dilúvio. No entanto, esta promessa vem com um reconhecimento profundo da natureza do homem: desde a juventude, o ser humano possui uma inclinação ao mal.

Rashi, em sua sabedoria, interpreta isso como "desde o momento em que ele começa a se agitar", ou seja, desde o nascimento. Isto destaca uma ideia profunda: nós, seres humanos, desde os nossos primeiros momentos, temos uma predisposição inerente para erros e falhas. No entanto, esta predisposição não é uma condenação, mas um chamado à consciência e à responsabilidade.

A analogia trazida por Ohr HaChaim compara o homem ao "boi do estádio". Assim como um boi treinado para causar dano pode ser condicionado a desistir de seu comportamento destrutivo, o ser humano também pode ser guiado e reeducado. O ensinamento central aqui é que, apesar de nossa natureza inerente, temos a capacidade e a responsabilidade de nos elevarmos, de escolher um caminho de retidão e de luz.

O Chasam Sofer adiciona outra camada a esta reflexão, ressaltando que, na época anterior ao Dilúvio, a longevidade do homem e sua juventude extensa muitas vezes levavam a uma vida de excessos e imprudências. A vida, em sua curta duração, agora serve como um lembrete constante da preciosa natureza do tempo e da importância da reflexão e do crescimento pessoal.

A Promessa do Criador e o Instinto Inerente do Homem

A Dualidade da Inclinação Humana

A inclinação ao mal, conhecida como "yetzer hara", é um tema recorrente nos estudos de mussar e autodesenvolvimento. Mas como podemos identificar e enfrentar o nosso "yetzer hara"?

E mais, o que exatamente significa esse conceito? Baseando-se nas reflexões do famoso Iggeres HaMussar de R' Yisrael Salanter, R' Eliezer Dessler esclarece que há duas perspectivas do "yetzer hara".

A primeira refere-se à própria natureza básica e inferior do homem - seus impulsos e desejos mais primordiais. Já a segunda, é uma força espiritual negativa externa, descrita pelo Chazal, que tem o poder de arrastar o indivíduo para o pecado e, consequentemente, afastá-lo de sua evolução espiritual.

Com o tempo e o esforço dedicado ao autodesenvolvimento, um indivíduo pode superar sua inclinação básica ao mal. No entanto, ao fazer isso, ele é então desafiado por essa segunda força externa. Esta entidade, em sua busca para desestabilizar o progresso espiritual, pode levar o indivíduo a pecar de maneiras que ele anteriormente não consideraria. Cada um de nós possui uma batalha interna e eterna contra nossas inclinações.

À medida que nos elevamos e superamos nossos desafios pessoais, novos obstáculos se apresentam, exigindo uma resiliência e força ainda maiores. É importante lembrar que o caminho espiritual não é linear, mas repleto de altos e baixos. O segredo é reconhecer essas inclinações, enfrentá-las e, acima de tudo, nunca desistir.

Ao abraçarmos nossa jornada de autodesenvolvimento, não só elevamos a nós mesmos, mas também iluminamos o mundo ao nosso redor com a luz divina. Continuemos essa batalha com coragem, fé e determinação.